Conclusões a partir da Carta de Howard de 1936
Na famosa carta de Robert Howard do dia 10 de março de 1936 (para P. Shuyler Miller), o texano explica muitas coisas sobre o cimério Conan. Vejamos um trecho a partir da tradução de Fernando Nesser:
Quanto ao destino final de Conan, francamente não posso prevê-lo. Ao escrever estas histórias, sempre senti que não as estava criando, e sim como se estivesse simplesmente relatando as aventuras que ele me ia contando. É por isso que elas saltam de um acontecimento a outro, sem seguir uma ordem regular. O aventureiro médio, contando ao acaso as histórias de uma vida selvagem, raramente segue um plano ordenado, mas narra episódios bem separados em termos de espaço e de tempo, na medida em que ele vai se lembrando deles.
Esse trecho é elucidativo sobre o quanto Howard não se preocupava com uma cronologia linear para Conan, pois para ele, os acontecimentos deveriam saltar para outros de uma forma sem qualquer ordem regular, como se um aventureiro médio contasse, ao acaso, sobre eventos de sua vida e de suas aventuras. Em outro trecho, Howard nos evidencia sobre o final da vida de Conan. Mais um enunciado traduzido por Nesser:
Ele foi rei da Aquilônia, penso eu, durante muitos anos, num reinado turbulento e inquieto, quando a civilização hiboriana alcançou o mais magnífico ápice e todos os reis tinham ambições imperiais. Primeiro ele lutou na defensiva, mas sou da opinião de que, no final, foi forçado a guerras de agressão, no mínimo por autopreservação. Se ele obteve sucesso em conquistar um amplo império ou se pereceu tentando, eu não sei. Ele viajou bastante, não só antes de ser rei, mas também depois. Ele viajou para Khitai e Hirkânia, e mesmo às regiões menos conhecidas ao norte da Hirkânia e ao sul de Khitai. Ele até visitou um continente sem nome, no hemisfério oeste, e vagueou entre as ilhas adjacentes. Quanto dessas andanças será impresso, ainda não posso prever com exatidão. Fiquei muito interessado em suas observações sobre as descobertas na Península Yamal; foi a primeira vez que ouvi qualquer coisa sobre o assunto. Sem dúvida, Conan tinha conhecimento de primeira mão sobre as pessoas que desenvolveram a cultura descrita, ou pelo menos sobre seus ancestrais.
Bem, temos aqui a evidência que Howard viajou depois de ser rei e pode ter perecido após tais viagens ou durante as mesmas. Sabemos que Lyon Sprague de Camp escreveu “Conan das Ilhas” como um final de trajetória de Conan, talvez seguindo tais palavras aqui.
Mas esse autor e editor tinha uma visão diferente de Conan daquela de Howard e foi ele que pensou essa noção de cronologia linear a partir de Miller e Clark, de organizar a vida do cimério e mais, de tentar reverberar a ideia de que Conan tinha um projeto de vida: se torna rei. Oras, Howard deixou subtendido que Conan se tornou monarca como um mero acaso e se aproveitando de uma oportunidade de momento, apesar de dizer que poderia ser rei um dia em algumas narrativas.
Termino essa cronologia com algumas palavras bem diretas. Não se trata a cronologia aqui uma palavra final sobre o assunto. Mudamos as cronologias que tivemos contato e explicamos nossos motivos para isso, mas o leitor pode ficar à vontade para seguir a sua própria ou a da Marvel, baseada em De Camp/Clark/Miller, ou quem sabe a de Dale Rippke e até mesmo de outros autores.
a carreira do cimério em ordem cronológica
Esta cronologia foi organizada por Marco Antonio Collares. Pode haver diferenças quanto à outras cronologias, então abaixo seguem as referências e informações que levaram até a nossa cronologia:
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1. A visão cronológica de Lyon Sprague de Camp, em seu ensaio, “Os Nomes Hiborianos” do final do volume de “Conan the Swordsman”, da Ace Books, publicada em 1978. Trata-se de um artigo que foi baseado (com inserções de seus pastiches) no artigo intitulado de “A Probable Outline of Conan’s Career”, dos fãs howardianos (os mesmos dos mapas da Era Hiboriana e das cartas de 1936, três meses antes da morte de Howad), John D. Clark e P. Schuyler Miller. Essa cronologia foi publicada na “Savage Tales”, número dois, em 1973 e na “The Savage Sword of Conan”, número 16, em 1977.
2. As considerações do estudioso Dale Rippke, que analisou a cronologia Marvel e que, a partir dos contos howardianos, fez algumas mudanças na cronologia estabelecida pela empresa, no caso, baseada no escrito de Sprague De Camp.
3. A resposta de Howard para os seus dois fãs, mediante uma carta de 1936, em que ele fez algumas considerações e correções na cronologia dos mesmos. Por tais motivos, que tratamos de Venariun, a partir da respectiva Carta, quando Conan teria 15 anos de idade. Colocamos também, “A Filha do Gigante de Gelo” como a narrativa logo em seguida a Venariun, ainda antes de “A Torre do Elefante”, tal como está na Marvel. Lembramos que a editora Dark Horse usa a narrativa de Conan perseguindo Atali como a primeira do cimério, antes de chegar as terras civilizadas.
4. Nossas considerações na live que tivemos no Canal do Fórum, do youtube, ao lado de Ricardo Highlander. Colocamos “O Deus Na Cesta” ainda antes de “A Torre do Elefante” por algumas considerações dessa conversa, além de colocarmos “Xuthal do Crepúsculo” antes de “O Demônio de Ferro”, em razão de Conan mencionar nessa última narrativa, que esteve em Xuthal e que conheceu os efeitos de sono da flor de lótus na respectiva cidade.
Marco A. Collares