Por Marcelo Souza | Revisão de texto por Rodrigo Martins
Como todos sabem, Robert E. Howard escreveu histórias com várias temáticas e personagens ao longo de sua carreira como escritor pulp. Ele também começou a escrever histórias que se desenrolaram no deserto do Oriente Médio. Isso fez com que, na metade da década dos anos de 1930, Robert E. Howard começasse a ampliar e expandir seu mercado como escritor de pulps, introduzindo outros gêneros literários aos seus escritos, além daqueles no qual ele ficou mundialmente conhecido com o gênero Espada & Feitiçaria. Suas histórias entraram no mercado pulp da Fantasia e da Aventura.
No gênero da Fantasia, ele começou a escrever histórias de detetives, com os desconhecidos detetives Steve Harrison, Butch Gorman, Brent Kirby e Butch Cronin, e no gênero da Aventura, histórias ambientadas no Oriente Médio, com os personagens El Borak, Kirby O’Donnell e Lal Sigh (na Índia), além de escrever histórias ambientadas no período das Cruzadas, com seu personagem Cormac FitzGeofrey, e uma série de outras histórias envolvendo lugares distantes, como Samarcanda, Egito e Catai. Dessa forma, Howard introduziu ao público leitor de pulps dos anos de 1930, personagens como: Yusuf ibn Suleiman; Moktra Mirza; Ak Boga, o tártaro; Godric de Villehard, o cruzado lutando na distante Catai; e até mesmo outro cruzado, John Norwald, lutando nos prados do Eufrates. Enfim, tantos personagens desconhecidos do público brasileiro, mas que nos revelam, segundo vários especialistas em Howard, no melhor daquilo que a famosa máquina de escrever (a Underworld) poderia ter produzido pelos dedos e pela mente de Robert E. Howard.
Tanto o personagem El Borak, quanto Kirby O’Donnell foram a porta de entrada para que Howard tivesse acesso ao mercado das revistas pulps de Aventuras da década de 1930. As primeiras histórias dele nesse campo foram publicadas nas revistas Action, Thrilling Adventures e Top-Notch.
Esta resenha tem como protagonista o personagem Francis Xavier Gordon, o El Borak que, paralelo a outro personagem howardiano, Kirby O’Donnell, perambulam pelas cidades do distante Afeganistão, à procura de aventuras e tesouros, em histórias ambientadas no Oriente Médio.
El Borak é um dos personagens mais carismáticos e interessantes de Robert E. Howard. Um homem que veio das planícies do oeste norte-americano para enfrentar o mal encarnado em todos aqueles que buscam fazer as estepes da Ásia Meridional e do Oriente Médio, o quintal de seus crimes. El Borak, assim como o lendário Lawrence da Arábia, está ao lado dos nativos para ajudá-los a preservar uma independência que todo o Ocidente quer tirar deles, transformando-os em meros peões em um grande jogo que, como Kipling, os considera como peças dispensáveis de um jogo que se passa em todo o Oriente e cujo objetivo é a conquista final do mundo. Como se fosse a continuação direta de outro dos heróis de Howard (Kirby O'Donnell), El Borak viaja pelo Afeganistão não disfarçado de afegão, mas como um deles, com os mesmos interesses, desejos e aspirações de liberdade. Cidades perdidas no Himalaia, ou construídas por terríveis adoradores do Diabo, vinganças que levam anos para se completar, perseguições que não sabemos onde começaram, batalhas épicas além da imaginação, as lutas mais implacáveis escritas por Howard... essas coisas são o pano de fundo de histórias magníficas, poderosas e emocionantes como poucas outras que Howard escreveu para este gênero de histórias de Aventura.
Howard criou o personagem El Borak quando tinha a idade de dez anos, numa época em que a sua jovem mente de contador de histórias estava ainda fantasiando sobre as façanhas de Lawrence da Arábia e as histórias de Ruyard Kipling sobre uma Índia repleta de antigas cidades abandonadas e de espiões, aventureiros e vigaristas britânicos, prontos para ganhar um império próprio. O próprio Howard fala que “O primeiro personagem que criei foi Francis Xavier Gordon, El Borak, o herói de ‘A Filha de Erlik Khan’. (Top Notch) Não me lembro de sua gênese. Isso surgiu em minha mente quando eu tinha cerca de dez anos”.
Dessas histórias sobre El Borak, Howard criou uma série de personagens que começaram a se tornar companheiros do americano em suas aventuras pelos desertos do Oriente Médio. Assim, veremos aparecerem com El Borak, personagens como Yar Ali Khan, Steve Clarney, Lal Singh, Steve Allison, entre outros, secundários, de menor importância, como Yar Hyder, Yasmina ou Khoda Khan, em suas aventuras.
Das histórias originais de El Borak, temos desde a sua publicação original nos pulps inicialmente apenas cinco: The Daughter of Erlik Khan (em Top-Notch, dezembro de 1934), Hawk of the Hills (em Top-Notch, junho de 1935), Blood of the Gods (em Top-Notch, Julho de 1935), The conntry of the Knife (também chamado de Sons of the Hawk, apareceu em Complete Stories, vol. 41, nº 1, da Street and Smith Publications, agosto de 1936) e, finalmente, Son of the White Wolf, “Os Filhos do Lobo Branco”, em Thrilling Adventures, dezembro de 1936. Essas cinco histórias publicadas seriam unidas posteriormente por The Lost Valley of Iskander e Three-Bladed Doom (das quais existem uma versão curta e uma longa). E, para a felicidade dos fãs da obra de Howard, foram aparecendo, após a morte do autor, vários contos não publicados durante sua vida, e que já foram publicados na íntegra em apenas três línguas. A língua inglesa, obviamente, em espanhol, e, recentemente, uma edição em língua italiana em dois volumes.
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