Em 1970 um novo personagem chegaria à nona arte pelas mãos de Roy Thomas e Barry Smith para nunca mais sair. O advento de Conan.
Por Ronan Barros
Foi em meados de 1970 que Conan, The Barbarian #1 chegou as bancas dos EUA. Com uma capa desenhada pelo iniciante e talentoso Barry Smith e finalizada pelo John Verpoorten. Ali era dado início a um marco dos quadrinhos que perdura até hoje. Já são 50 anos de Conan nos quadrinhos e, se tudo correr bem, ainda haverá muitos mais!
O Roteiro, escrito por Roy Thomas, apresenta uma história bem simples onde vários dos conceitos de Espada & Feitiçaria são usados de forma um tanto inocente para os padrões atuais e, digamos, até um pouco atabalhoada. Na história acompanhamos o jovem Conan, recém-saído da Ciméria, atuando como mercenário a serviço de uma horda saqueadora aesir contra seus eternos rivais vanires de Vanahein. Após rechaçar e perseguir seus inimigos, eles acabam sendo atacados por estranhas criaturas aladas que estão a serviço de um misterioso ancião e uma bela garota que, em posse de uma misteriosa pedra mágica, procuram recursos para realizar um estranho ritual.
Tem ação, tem monstros, tem mistério, tem intriga e até mesmo uma garota bonita. Ou seja, o roteiro de Roy consegue entregar de forma simples tudo que muitas vezes se é esperado para uma obra do gênero. Mas, claro, a obra entregue é ainda um típico quadrinho infanto-juvenil do início da década de setenta onde se era respeitado em linha o famigerado Comics Code Authority, um selo de autocensura criado na década de 50 que regulava os conteúdos apresentado nos quadrinhos para que eles não ultrapassassem os limites morais da época. Assim, como todos os quadrinhos daquele período, Conan, The Barbarian #1 não tem sangue e as mortes acontecem de forma veladas ou longe do foco da narrativa.
Os desenhos desta revista ficaram a cargo do ainda jovem Barry Smith e foram finalizados por Dan Adkins. Este foi o primeiro trabalho do talentoso Barry em quadrinhos e é notório a grande influencia de Jack Kirby em seus traços. Os conceitos de algumas armas e até do misterioso santuário na montanha apresentam um estranho estilo hightech com um visual muito inspirado nas obras de ficção de Kirby. É uma arte que transpira quadrinhos anos 60/70 mas que divide muito opiniões atualmente e que com certeza está longe do que o Barry iria entregar com o passar do tempo em outras obras como Arma X, Homem-Maquina e até mesmo Conan na Marvel.
Particularmente não vejo problemas na arte. É notório que ela segue uma tendência de época, mas, ok! Por mim tudo bem. O Conan de Barry é um tanto esbelto mas acho que se enquadra bem na proposta de Jovem Cimério. Os conceitos hightech realmente geram um certo estranhamento... dá uma sensação que Barry ainda não entendia muito bem todo aquele universo hiboriano, mas, diga-se de passagem, isto durou muito pouco visto que a cada edição ele melhorou drasticamente sua arte e sua concepção de mundo hiboriano.
Mas então você se pergunta: -se tudo no quadrinho é apenas tão mediano e ok, como esta obra teve tanto sucesso? O caso, meu pequeno gafanhoto, é que há um ponto bem específico, instigante e envolvente nesta obra que a torna suficiente para mover centenas de edições. E este ponto é... Conan. Se o roteiro entregue é simples e os desenhos bastantes comuns para a época, o personagem da obra é de uma sagacidade sem igual e estimulante o suficiente para nos fazer desejar mais e mais. Conan, desta primeira edição, é jovem, impetuoso, sagaz, bárbaro e até contemplativo. Para aqueles que nunca tinham ouvido falar do personagem eu tenho certeza de que ficou o típico gostinho de quero mais... e para aqueles que já conheciam os contos, ver o personagem ganhar dinâmica de ação com certeza deve ter sido vibrante.
Assim, Conan The Barbarian número 1 é um marco na indústria dos quadrinhos. Não pela história em si, mas pelo personagem que ela, pela primeira vez, transportava para nona arte. Atualmente são 50 anos que Conan vem nos encantando com toda a sua sagacidade em um mundo repleto de coisas estranhas e misteriosas. Bons e maus roteiros aconteceram e com certeza ainda continuarão acontecer... mas... nada se iguala a força da presença deste personagem que nos faz sempre desejar mais e seguir adiante. Então, seria imprudente negar a força desta primeira edição.
Nota: 9
CURIOSIDADES
- Antes de tentar um contrato por Conan, Roy Thomas tentou Thongor de Lin Carter com a proposta de pagar 150 dólares para cada edição que fosse lançada. Mas, após 2 meses de negociação, a transação não estava transcorrendo como gostaria então Roy Thomas decidiu arriscar com o agente literário de Conan uma proposta de 200 dólares, sendo que estes 50 reais eram uma aposta do próprio Roy pois ele não tinha permissão para isto.
- A priori os roteiros ficariam a cargo de Gerry Cornway, mas, devido aos gasto do licenciamento acima do planejado, Roy decidiu ele mesmo assumir os roteiros e, assim, conseguir compensar os 50 reais que ele havia apostado na obra. No inicio ele imaginou ficar apenas algumas edições, hoje sabemos que ele escreveu 151 edições para o título fora os anuais e as outras revistas com o personagem.
- Desde o início Roy Thomas queria que o desenhista oficial da série fosse John Buscema que, quando conheceu o projeto, ficou bastante animado, mas, como este já era consagrado e tinha um alto preço no mercado, Martin Goodman acabou exigindo um desenhista mais em conta para contrabalancear os gastos, o que fez Roy procurar o ainda inexperiente Barry Smith.
- Atualmente, o próprio Roy Thomas alega que tanto ele quanto Barry demoraram um pouco para entender bem como tratar o gênero Espada e Feitiçaria. E se diz envergonhado pela cena onde aparece o astronauta nesta edição #1.
- Antes de Conan ganhar a sua versão em quadrinhos nas mãos de Roy e Barry, uma historia chamada "A Espada e os Feiticeiros" apresentava um bárbaro genérico idêntico ao Conan chamado Starr na revista "Chamber of Darkness". O lançamento desta história, segundo Roy, foi um meio de testar e aquecer o mercado para o gênero Espada e Feitiçaria.
- A splash page inicial desenhada originalmente por Barry contava com Conan de costas para a tela olhando para os leitores por cima do ombro. Stan Lee não gostou do desenho o que levou Roy criar um esboço inspirado nas artes de Frazetta que acabou resultando no desenho final lançado.
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