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ENTREVISTA EXCLUSIVA - FERNANDO BERTACCHINI, editor da Mythos

Foto do escritor: Fórum ConanFórum Conan

Editor de Conan desde que ele saiu da Marvel e foi para Dark Horse, poucas vezes se viu um cara tão cuidadoso e detalhista editando o cimério por aqui. Confira!


Por Marco A. Collares


INTRODUÇÃO


Aqui temos uma entrevista feita por e-mail com o editor da Mythos Fernando Bertacchini (que sempre cuidou das edições de Conan assim que ele desenbarcou na Dark Horse). Consultado sobre uma possibilidade de falar ao vivo com a gente, ele propôs nos dar uma entrevista por escrito. E que entrevista! Agradecemos pela sua atenção e esperamos sucesso nos seus novos projetos, seja como editor ou tradutor. Confira agora a entrevista, reproduzida na íntegra.


FÓRUM CONAN - Agradecemos a sua disponibilidade de participar dessa entrevista escrita para nosso blog e de saída gostaríamos de perguntar há quanto tempo és editor de HQs e quando foi que te tornasse editor de narrativas em quadrinhos do personagem Conan, de Robert Howard?

Fernando Bertacchini.

FERNANDO BERTACCHINI - Minha primeira experiência como editor, embora não creditado, foi na minissérie Star Wars: Império do Mal, publicada pela Abril Jovem em 1997. Na época, eu era responsável "oficialmente" pelo atendimento ao leitor, mas, "oficiosamente", atuava também como assistente editorial. E, como freelancer, traduzia quadrinhos por meio dos estúdios que atendiam à Abril Jovem. Quando a editora resolveu publicar essas minisséries pioneiras da Dark Horse, Sergio Figueiredo (editor-chefe da Redação de Quadrinhos Juvenis), sabendo que eu gostava bastante de Star Wars, decidiu que eu seria o tradutor e editor ideal para as minisséries Império do Mal I, II e III. Fiquei feliz e sempre fui grato pela oportunidade e pelas lições que ele me transmitiu, mas infelizmente faltou coragem pra bancar sua decisão e me conceder o devido crédito. Sem isso, só quem trabalhava lá dentro na época sabia que fui editor de Império do Mal I, pois no papel, ali na edição impressa, não é isso que consta. As duas sequências acabei só traduzindo, pois saí da editora antes que fossem publicadas (e o motivo não teve a nada a ver com essa falta de crédito). Aliás, se não me falha a memória, acho que a segunda e a terceira parte nem sequer foram publicadas.

Em relação ao Conan, eu conheci o personagem só nos quadrinhos e, em 1997 ou 1998 (a memória não alcança tão longe), traduzi umas cinco ou seis edições da Espada Selvagem. Nesse caso, as traduções foram creditadas ao “Estúdio Jun Fan”, que era minha Pessoa Jurídica. Em 2001, Dorival Vitor Lopes (sócio proprietário da Mythos) me convidou a ser editor na Mythos e, no ano seguinte, a editora “adotou” o Conan abandonado pela Abril Jovem.


FC - Temos uma dúvida cronológica bem básica e vemos que essa dúvida persiste em debates de grupos de fóruns e redes sociais. Tu assumisse o Conan na Mythos desde os primeiros momentos em que ela assumiu o personagem da editora abril?

Edição de estréia de Conan na Mythos. Capa por Alexandre Jubran.

FB - Sim. A Abril desistiu da publicação em 2001 e, imediatamente, Marco Lupoi (da Panini italiana, que era licenciante dos quadrinhos do Conan produzidos na "Era Marvel" original) perguntou ao Helcio de Carvalho (sócio proprietário da Mythos) se a Mythos teria interesse em se tornar a nova casa editorial do Cimério. Helcio respondeu um entusiástico "É claro que sim!" e, no início de 2002, o personagem estreou na editora. Apesar das dificuldades e do trabalho extremamente "atropelado" no início, eu já era o editor, sim.


FC - Uma pergunta que fazemos para quase todos os nossos entrevistados em lives do nosso canal ou mesmo no blog. Quando entrasse em contato com Conan pela primeira vez e por qual mídia? Foi pelo filme de 1982, pelos quadrinhos da ESC, pelos contos literários originais?


FB - No meu caso, foi nos gibis da Bloch. Aqueles porcamente editados, com artes retocadas pra se adequarem ao formatinho – porém, aparentemente retocadas por quem não sabia desenhar –, as cores completamente adulteradas, etc., mas que parecem ser muito queridos pelos colecionadores. Aliás, nunca entendi o motivo de tanto amor por um trabalho tão amadorístico, que só depreciava a qualidade dos quadrinhos da Marvel.

Eu me lembro de que costumava ir à feira livre às sextas-feiras com a listinha de compras da minha mãe. No fim da rua, ponto estratégico pra escapar de possíveis fiscais, ficava sempre um camelô que estendia um lençol no chão e espalhava sobre ele dezenas de gibis usados. Com o troco das frutas e verduras, eu sempre escolhia alguns quadrinhos pra levar pra casa e, certa vez, o camelô tinha todos os números de Conan lançados pela Bloch. Como era um personagem que eu não conhecia, comprei pra ver se gostava. Com cerca de 70% do texto original eliminado e aquelas cores e retoques tenebrosos, confesso que detestei. Só comecei a gostar mesmo ao redescobrir o personagem na Abril Jovem, principalmente nos primeiros anos da Espada Selvagem de Conan.

O primeiro filme do Schwarzenegger veio depois. Meu pai não gostava de cinema "épico" e disse que não nos levaria pra ver “filminho de espadachim fortão". Depois de uma semana aguentando meus pedidos insistentes pra que lesse só duas histórias (Red Nails / A Cidadela dos Condenados e A Witch Shall Be Born / A Maldição da Lua Crescente) pra ter uma noção melhor do personagem, ele se rendeu. As leituras não bastaram pra que se tornasse leitor assíduo, ainda mais considerando que meu pai detestava quadrinhos em preto e branco, mas ao menos ele acreditou que não passaria muita raiva se levasse eu e meu irmão ao cinema antes que Conan, o Bárbaro saísse de cartaz. No fim das contas, até ele gostou. Ou melhor, gostou do primeiro filme. Anos depois, quando tomou a iniciativa de nos levar pra ver Conan, o Destruidor, toda a boa impressão inicial foi por água abaixo. "Agora chega, ouviu? Se inventarem outro filme desse lixo e você quiser ver, que vá sozinho..."


Obviamente, eu nem podia reclamar. Afinal, a não ser pela trilha sonora novamente brilhante de Basil Poledouris, "Destruidor" é um péssimo filme.


FC - Quantas HQs de Conan tu trabalhaste? Quais as coleções mais bem-sucedidas e aquelas que tu mais te orgulhas de ter editado?


FB - Realmente não sei. Graças ao portal Guia dos Quadrinhos, provavelmente daria pra contar exatamente quantas foram, mas eu não teria paciência pra fazer essa pesquisa. Particularmente, nunca parei pra pensar nisso. Essa questão de orgulho também é meio estranha pra mim, sempre encaro cada trabalho com a intenção de me empenhar ao máximo no que estou fazendo, até mesmo se for alguma coisa que nem me agrade. Por exemplo, num curto período em que trabalhei com legendas, os trabalhos que me passavam eram programas muito ruins. Eu nunca perderia meu tempo assistindo àquilo, mas sabia que, se eles tinham espaço numa grade de TV, era porque muita gente gostava. Então, minha obrigação era traduzi-los como se eu também gostasse. Trabalhar sem emoção pessoal, mas com o máximo de dedicação que aquele público-alvo merecia. Com HQs, é a mesma coisa. Na infância e adolescência, fui fã e colecionador e sabia que adoraria trabalhar no ramo. Mas, quando consegui um emprego no Arquivo Editorial da Abril Jovem, passaram-se poucos meses pra eu perceber que meu fanatismo de geek poderia até prejudicar meu desempenho agora que os quadrinhos estavam se tornando meu ganha-pão. Eu poderia aproveitar meu não muito vasto conhecimento de quadrinhos, mas precisava me desapegar de paixonites pessoais. Foi o que fiz. Pra mim, o importante é o Conan, o Hellboy ou qualquer personagem que eu estiver traduzindo/editando, eu tenho que zelar por essa obra de arte que é confiada aos meus cuidados pra ser transmitida ao público que também gosta dela. Ou seja, os leitores são tão importantes quanto à obra. Se estiverem gostando das publicações que passaram pelas minhas mãos, isso é o que vale, e não que "eu" sinta orgulho de mim mesmo, entende? O personagem, a arte, precisa ser honrado e preservado. Se eu fizer um bom trabalho e os leitores gostarem, meu dever foi cumprido. Se eu quisesse aparecer mais do que o Conan e o Hellboy, meu dever não seria cumprido.

Capa de Red Nails (ou Cidadela dos Condenados).

Agora, apesar dessa visão rigorosamente profissional, sempre há algumas aventuras que ficam gravadas na memória, aquelas que ainda me despertam vontade de reler de tempos em tempos. Então é claro que tenho na minha estante mental de HQs algumas histórias do Conan, mas, pra não divagar demais, vou direto à "campeã": a adaptação de Red Nails / Pregos Vermelhos produzida por Roy Thomas e Barry Windsor-Smith. Eu a traduzi e editei duas vezes, mas devo ter lido e relido essa aventura umas sete vezes. E isso, muito antes de imaginar que, algum dia, ela seria parte do meu trabalho. Quando ainda era colecionador de quadrinhos, conheci e reli essa história na versão da Abril Jovem. Estou definindo como “versão” não pra depreciar, mas apenas porque, mesmo sendo em formato magazine (que não restringia tanto o espaço nos balões), ainda houve um corte de texto meio excessivo para o meu gosto. Depois, quando descobri que a Marvel havia relançado versões coloridas pelo próprio Barry Smith, consegui importar duas delas: uma em formato gigante, publicada na coleção Marvel Treasury Edition; a outra em formato americano convencional e um papel de melhor qualidade chamado baxter. A segunda era minha preferida, pois esse baxter permitia alta qualidade de impressão e reprodução de cores, mas como não era brilhante, não produzida reflexos – um efeito normalmente irritante pra quem usa óculos de alto grau. Apesar do formato enorme que deveria valorizar demais a arte, acabei descobrindo que a coleção Treasury Edition era impressa no papel jornal padrão da Marvel. Ou seja, de nada adiantava o tamanho gigante dessa reedição, pois tanto a impressão quanto as cores de Windsor-Smith foram prejudicadas pela má qualidade do papel. Seja como for, de todos os quadrinhos do Conan que já li, Pregos Vermelhos é minha adaptação favorita, disparada. Até gostei da versão mais recente produzida na França, mas não tem comparação. Imagino que qualquer artista que tenha de "competir" com a obra-prima de Barry Windsor-Smith já saiba que a chance de vitória é quase nula.


FC - Gostas dos contos originais de Robert Howard? O que achas que caracteriza esse personagem e sua Era Hiboriana? A barbárie? O embate contra a civilização? O Horror cósmico lovecraftiano? A crueza e a selvageria do cenário hiboriano? Todos esses elementos ou outros além desses?


FB - Como conheci o personagem pelos quadrinhos, só tive interesse em ler alguns contos que mais haviam me empolgado ne versão em quadrinhos, como A Torre do Elefante, Pregos Vermelhos e A Cidadela Escarlate. Mesmo nos tempo em que eu ainda tinha tempo e visão perfeita pra ler livros, eu preferia leituras totalmente diferentes da diversão pura dos quadrinhos. Se eu já dedicava tantas horas a aventuras e ficção, e um tempo bem menor aos livros, pra mim não fazia sentido ler ainda mais ficção, parecia mais proveitoso que essa parte das minhas leituras fosse “instrutiva”. Então eu preferia obras biográficas, religiosas, psicológicas, cosmologia, etc. Por isso nunca li as compilações completas de Howard. Até tenho as edições em inglês, que sempre verifico quando estou trabalhando em alguma adaptação em quadrinhos, mas nunca tive paciência, tempo ou visão ainda límpida pra ler o conto inteiro depois das consultas. Há anos, passo meus dias traduzindo, redigindo ou revisando, quando finalmente desligo o computador, não me resta mais visão (ainda mais comprometida com diabetes tipo 2) nem disposição pra ler qualquer outra coisa, principalmente impressa.


Da mesma forma, também não sou do tipo que fica procurando significados profundos em obras de ficção. Seja espada & magia, ficção científica, mistério, terror, eu vejo tudo apenas como entretenimento, diversão. E Conan sempre foi ótimo entretenimento, pra mim isso basta, não quero procurar nada além disso nas aventuras dele. No entanto, reconheço que é impossível não perceber ou destacar ao menos uma premissa constante de Howard, que foi até incluída em um diálogo no final de Além do Rio Negro. Aquela tese howardiana de que “o barbarismo é o estado natural da humanidade; a civilização é antinatural, um mero capricho circunstancial. Por isso, o barbarismo há de conquistar o triunfo definitivo…”


As explosões de violência que vemos cada vez mais no mundo demonstram que, nesse aspecto, Howard tinha razão e, por isso, sua criação situada num passado tão distante, e escrita na década de 1930, ainda consegue ser “atual”.


FC - Achas que a fase de Kurt Busiek e Cary Nord na Dark Horse/Mythos é tão representativa quanto a fase Marvel/Abril com Roy Thomas e John Buscema mais os arte-finalistas filipinos? O que podes nos falar a respeito dessas duas fases, em seus momentos de maior veiculação?


FB - A meu ver, não tem comparação. Thomas levou o personagem para os quadrinhos, ele e Buscema produziram décadas de histórias e milhares de páginas, tanto adaptadas de REH quanto originais, de altíssima qualidade. Busiek vinha desenvolvendo um trabalho memorável, mas abandonou o navio antes de completar seu terceiro ano. Cary Nord começou claramente empolgado, depois deve ter se cansado tanto do personagem quanto das exigências artísticas e, além de atrasar sua produção, seus últimos trabalhos foram se tornando bem menos caprichados. Se formos conferir com atenção, nem cenários ele desenhava no final, tudo pra tentar diminuir os atrasos. Particularmente, gostei muito mais da arte de Tomás Giorello.


" A obra de Busiek como escritor de Conan foi ótima, mas muito curta. Timothy Truman não apenas o substituiu à altura, como permaneceu muito mais tempo como escritor."
A primeira dupla criativa de Conan na DH, Busiek e Nord.

Então, se a Dark Horse tivesse condições de cobrir a proposta milionária da Marvel pra manter Busiek no comando do Conan por uns cinco a seis anos, aí, sim, talvez hoje seria possível comparar seu trabalho com os de Roy Thomas. Eu me lembro de uma entrevista que KB concedeu logo depois de assinar com a Dark Horse, na qual comentava que seu sonho era recriar toda a trajetória de Conan até a conquista do trono da Aquilônia. Pelo nível demonstrado nos dois anos e pouco à frente da publicação, provavelmente o resto da epopeia do Cimério escrita por KB seria fenomenal. Mas, como ele não seria louco de recusar um supercontrato de exclusividade com a Marvel, a obra de Busiek como escritor de Conan foi ótima, mas muito curta. Timothy Truman não apenas o substituiu à altura, como permaneceu muito mais tempo como escritor. A comparação mais justa, se a gente pensar bem, seria entre Busiek & Nord versus Truman & Giorello. E, nesse embate, acho que a segunda dupla criativa superou o da primeira.

A segunda dupla criativa, Truman e Giorello.

FC - Como ficam as coleções que a Mythos começou... Como Crônicas, Coleção Histórica e os lindos Encadernados Dark Horse (nenhuma delas saiu completas no Brasil) agora que a Panini publica o personagem?

A estreia do material original de Conan se deu por meio desta edição #0, Conan a Lenda.

FB - Essa é uma grande incógnita. A princípio, a Mythos manteria as histórias criadas pela Dark Horse. Porém, a pandemia e a quarentena abalaram de vez o mercado editorial, então tudo pode ter mudado, embora ainda não tenhamos nenhum comunicado oficial. Se as publicações que a Panini Brasil vem lançando superarem as expectativas, nada impede que a Panini Itália, licenciante oficial da Conan Properties, decida remanejar pra lá até as aventuras criadas pela Dark Horse. Ao mesmo tempo, é possível que eles ainda prefiram publicar e republicar somente as aventuras clássicas e contemporâneas produzidas pela Marvel. Se for o caso, com certeza será um prazer continuar produzindo o que resta de material Dark Horse pela Mythos. Em breve, vamos lançar Conan: A Lenda Vol. 3: As Joias de Gwahlur, que é o último título do nosso contrato atual. Depois disso, ainda não tenho notícias ou previsão a respeito da “era Dark Horse” de Conan no Brasil. Espero que fique na Mythos, é claro.


FC - Muitos leitores elogiam teu trabalho como editor porque as revistas de Conan (tal como na época da ESC da Editora Abril) não tinham apenas as narrativas em si, mas também sessões como "Taverna Hiboriana", em que os leitores perguntavam a tinham suas questões respondidas ou mesmo seus editorais incríveis das antigas "Conan, o Bárbaro" (formato magazine). Achas que, certas vezes, falta esse "a mais" em algumas revistas de narrativas de HQ de Conan? O que podes nos dizes sobre isso?


FB - Eram outros tempos. Não acho que seções de cartas façam tanta falta assim nos tempos modernos. Antigamente, esse era o principal meio de comunicação entre o editor e o leitor. Hoje, com e-mail, redes sociais e tantas formas de comunicação muito mais rápidas, parece “bobagem” alguém querer sofrer a ansiedade de esperar meses pra ver se a editora vai ou não publicar sua carta. Mesmo na época em que tínhamos a revista PB, a correspondência dirigida à publicação estava se tornando cada vez mais escassa. A revista recebia poucos e-mails por mês, quase nenhuma carta, e geralmente eram os mesmos leitores que escreviam, vários deles tratando do mesmo assunto. A maior parte dos leitores não tinha interesse em escrever ou ver seu nome publicado, e talvez até ficassem com a impressão equivocada de que a seção de cartas não passava de um clubinho particular, que só uma “panelinha” tinha espaço naquelas páginas, os “amiguinhos do editor”. Afinal, quem poderia imaginar que, na verdade, eles eram os únicos que ainda tinham interesse em escrever diretamente à revista?

Ilustração da aclamada fase de Tomas Giorello.

Imagino que a grande maioria dos leitores já preferiam usar redes sociais ou fóruns de debates sobre quadrinhos pra esclarecer suas dúvidas, criticar ou elogiar as histórias. Hoje, ainda por cima, a comunicação se tornou muito mais dinâmica, são vídeos e áudios trocados pra lá e pra cá, por isso acredito que as seções de cartas em si são um marco do passado. Nem por isso, é claro, deixei de me importar com os fãs, pois costumo me empenhar em produzir matérias especiais que possam enriquecer a leitura de cada título. Espero assim oferecer um agrado adicional aos fãs, já que essas matérias ou entrevistas normalmente não existem nas edições originais norte-americanas.


FC - Além de Conan, quais outros personagens de Howard gostarias de ver em HQs hoje em dia no Brasil? Bran Mak Morn, Sonya (a original), Kull, Dark Agnes?


FB - Mesmo nos tempos clássicos da Marvel, o único que me agradava um pouco era o Rei Kull, mesmo assim, só um pouco mesmo. Os demais nunca me interessaram não apenas a mim, afinal, nunca foram bons vendedores de quadrinhos. A própria Dark Horse demorou bastante pra testar alguma coisa em relação aos outros personagens howardianos, e logo desistiu pois não conseguiu emplacar nenhum deles (mas republicou Kull e Solomon Kane clássicos, vale observar).


Pra quem gosta, no entanto, há esperança no ar. Lembro-me de ter lido alguma entrevista na qual os editores da Marvel diziam quem, desde que a editora retomou o Conan, haveria mais espaço pra outras criações de Howard. Bêlit e Valéria da Irmandade Vermelha foram as primeiras contempladas com minisséries, mas Sonya de Rogatine e outros também estariam nos planos da “nova era Marvel”.

"No começo, quando eu não conhecia muito bem o universo de Conan, era mais complicado, pois os howardianos são meio radicais. Qualquer pisadinha na espada que eu cometesse já era motivo de e-mails ou cartas querendo cortar minha cabeça."

FC - Vemos que o público de Conan no Brasil é bem exigente, talvez pelo fato do personagem ter feito muito sucesso no mercado de quadrinhos brasileiros. Existe até aquela informação de que a ESC vendia menos apenas do que a Revista Veja em nossas bancas. Enfim. Quais as dificuldades em ser editor do personagem, Conan, para esse público tão exigente?


FB - No começo, quando eu não conhecia muito bem o universo de Conan, era mais complicado, pois os howardianos são meio radicais. Qualquer pisadinha na espada que eu cometesse já era motivo de e-mails ou cartas querendo cortar minha cabeça. Mas nem acho que isso seja tão terrível, fãs exigentes obrigam a gente a se empenhar mais em busca da qualidade que os leitores exigem. Foi o que aconteceu comigo, fui aprendendo cada vez mais, e os leitores inicialmente ferrenhos se tornaram até amigos, cujas opiniões, por seu conhecimento avançado, sempre valorizei.


Ah, só pra constar, a comparação mencionada é um pouco exagerada. A Veja vendia mais de um milhão de exemplares por mês. Nenhum quadrinho tinha comparação com esses números. A ESC, em seu auge, chegou a vender 110 mil exemplares. Porém, mesmo naquela época áurea, acredito que Maurício de Souza alcançava números similares ou até superiores aos da ESC.


FC - Agradecemos pela sua atenção e esperamos sucesso nos seus novos projetos, seja como editor ou tradutor.


FB - Obrigado. Sou igualmente grato a todos que, como você, prestigiam nosso trabalho, e peço desculpas pela demora em responder. Espero ter compensado com essas respostas mais detalhadas.

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