Artigo original por Alexandre Vivoni em http://bit.ly/32XmUya
Estou saindo um pouco da minha área de atuação atual, porque considero esse um exemplo de marketing que se tivesse sido aproveitado à sua época, poderia ter sido um caso de muito sucesso. Além disso, sou um apreciador do filme e das espadas.
Para começar, preciso citar a fala abaixo:
"Between the times when the oceans drank Atlantis, and the Rise of the Sons of Aryas, there was an age undreamed-of. And unto this, Conan, destined to bear the jeweled Crown of Aquilonia upon a troubled brow. It is I, his chronicler, who alone can tell thee of his saga. Let me tell you of the days of high adventure..."
Essa antológica fala foi dita pelo Wizzard of the Mounds (Mago), na abertura do filme “Conan, o Bábaro” (“Conan the Barbarian”, 1982, Universal Pictures) de John Milius, antes de vermos o pai de Conan forjar a sua espada. Ela deixou muitos, inclusive eu, fascinados por essas que são provavelmente as espadas mais cobiçadas por qualquer apaixonado por esses objetos cortantes, seja ele fã do filme ou não. O Mago foi chamado de Akiro apenas no filme “Conan, o Destruidor”, mas isso é outra história...
A Espada Atlantean – “Atlantean Sword” (encontrada por Conan em uma tumba anciente de um general ou Rei Atlante, tendo estado perdida há incontáveis anos), e a Espada do Pai – “Father’s ou Master’s Sword”, (forjada pelo Pai do Conan na abertura do filme, e roubada por Thulsa Doom) são sem sombra de dúvida belíssimos objetos de arte. São provavelmente as espadas do universo de ficção (incluindo filmes, séries, comics, etc) mais desejadas de todas.
As espadas originais do filme foram desenhadas por Ron Cobb, e fabricadas por Tim Huchthausen e pelo renomado artista cuteleiro Jodi Samson, já falecido. O que impressiona é o grau de detalhamento que foi dado a ambas espadas, pois as mesmas, apesar de proeminentes em todo o filme, aparecem muito pouco em cenas de close onde tais detalhes podem ser apreciados. Naquela época não havia ainda a preocupação de lançar objetos licenciados de filmes, o que teria justificado tal obsessão por detalhes.
Foram feitas 4 cópias de cada espada, ao custo de US$ 10.000 cada. As espadas foram feitas de aço carbono, temperadas e deixadas sem fio. As espadas eram pesadas e não balanceadas, o que fazia com que qualquer tentativa de utiliza-lás em cenas de batalhas, mesmo por combatentes experientes, causasse desconforto e fosse extremamente difícil. Por esse motivo essas espadas eram usadas somente em cenas de close, enquanto nas cenas de luta foram usadas réplicas das espadas feitas em alumínio ou em fibra de vidro, mais leves e fáceis de manusear. As réplicas usadas no filme foram reutilizadas no filme “O Guerreiro de Aço” de 1987. Um uso triste para as mesmas, na minha opinião...
A Espada Atlantean é sem dúvida a mais bela das duas, mas por pouco. Possui um desenho único, de uma beleza exótica. A lâmina possui uma parte com escritas rúnicas, o ricasso, cercada por uma extensão da guarda em bronze. As escritas rúnicas foram gravadas por arco elétrico, e são bem profundas. Essas runas não possuem significado, como dito pelo próprio Jodi Samsom e por Ron Cobb, designer das espadas.
A lâmina, produzida pelo processo “hollow grind”, possui um sulco central, que é cercado por uma elevação em metal, dando ao perfil da lâmina o formato de um “u” alongado.
A guarda foi feita em bronze, pelo processo de “Lost Wax Casting”, e possui dois “Cães do Mar”, provavelmente criaturas da lendária Atlântida, detalhadamente esculpidos. Entre os Cães do Mar, há um vulcão em erupção, com ondas do mar embaixo, além de símbolos rúnicos. A guarda provavelmente remete ao mito do afundamento de Atlântida.
O pomo, feito pelo mesmo processo da guarda, possui um barco de juta, cercando uma caveira, encravada em uma montanha. Muitos dizem que o pomo representa os barcos que levaram os sobreviventes de Atlântida às terras seguras.
O cabo é enrolado em corda, em uma coloração marrom suja, para dar o aspecto de antiga.
As dimensões aproximadas são:
Comprimento total: 98,7 cm
Lâmina (com ricasso): 71,4 cm
Lâmina (sem ricasso): 54 cm
Cabo com guarda: 27,3 cm
Espessura da lâmina na base: 0,635 cm (é um bocado de aço).
O filme “Conan, o Bárbaro” adquiriu um status de “cult movie”, com uma forte e numerosa base de fãs. Muito se foi discutido sobre as mensagens e filosofia do filme. Mas o importante é que a grande base de fãs queria possuir a sua espada Atlantean. Contudo, durante muito tempo isso não era possível, pois não havia réplicas de espécie alguma disponíveis. A marca “Conan” estava no centro de uma disputa entre herdeiros de Robert E. Howard, criador do personagen Conan.
Foi somente em 2001, quase 20 anos depois do lançamento do filme, que a Albion Armourers resolveu todos os problemas legais em torno da marca Conan, e pôde começar o projeto de criar as cópias das espadas mais aguardadas pela legião de fãs do filme. Trata-se de uma pequena e renomada forja fabricante de diversos tipos de espadas, e foi durante algum tempo a única licenciada oficial para produzir as réplicas das espadas de Conan.
A Albion criou uma estrutura nunca superada para reproduzir, em todos os detalhes, as espadas do filme. E isso incluiu contratar Jodi Samsom, ele mesmo, o artista que confeccionou as espadas originais.
Usando o mesmo maquinário e técnicas utilizadas na manufatura das espadas originais, e os moldes originais das espadas do filme, a Albion, sob a supervisão atenta de Samsom, fez uma batelada numerada de 1000 espadas Atlantean, chamadas “20th Anniversary Edition”, em homenagem aos 20 anos do filme. As espadas da Albion, além de réplicas perfeitas das do filme, são 100% funcionais (ao menos tão funcionais quanto uma espada de 5 kg pode ser). São feitas em aço carbono temperado com dureza 56 HRC (Hardness Rockwell C, ou dureza Rockwell C) e full tang. O mesmo foi feito para a Espada do Pai.
Cada Atlantean ou Father's era vendida nos EUA por US$ 3,200.00, fora o frete. Isso coloca o valor do negócio em mais de US$ 6,400,000.00. Assumindo uma margem de lucro de 20%, isso daria US$ 1,280,000.00 a valores de 2002. Nada mal para algumas espadas, assumindo que se conseguisse vender todas elas e que existissem pessoas dispostas a pagar uma pequena fortuna por algo que teria uma utilidade no mínimo questionável. Parece difícil, certo?
Pois a Albion quase não deu conta de atender aos pedidos, que eram colocados em lista de espera. As espadas eram despachadas à medida em que eram produzidas. A espera de 20 anos deixou os fãs extremamente ansiosos, e também deu tempo para que eles crescecem, arrumassem um emprego e fossem capaz de dispor de mais de três mil dólares para satisfazer um antigo desejo.
Atualmente a Marto (Espanha) e a Windlass Steelcrafts/Museum Replicas (India/USA) também possuem a licença da Conan Properties para produzir suas réplicas da Atlantean. A qualidade não é a mesma da Albion, mas o preço é equivalentemente menor. Essas espadas ainda hoje apresentam vendas expressivas, ficando constantemente em lista de espera nos fornecedores, especialmente as Windlass, mais baratas e funcionais.
Eu apenas imagino quanto esse negócio poderia ter rendido se alguém tivesse feito réplicas com a qualidade das Windlass logo após o lançamento do filme. Mais uma prova de que “timming” é fundamental para se criar um negócio lucrativo, seja ele qual for.
Tenho a Réplica chinesa da Atlantean Sword em aço inox 440 (99cm). Em termos de dureza, claro, fica longe do aço carbono, mas é muito bonita para um objeto decorativo.