Magos, serpentes, um grande rio: não se trata aqui dos egípcios, mas dos ancestrais deles, vindos da Estígia, criada por Howard para a Era Hiboriana
por Marco A. Collares
Parte VII
Em mais um texto sobre as ditas raças e culturas hiborianas, tratamos agora dos Estígios, um grupo que herda traços de uma Raça Antiga vinda da região leste do continente e que idolatra deuses e divindades de uma raça pré-humana que vivia na parte sul, os chamados Homens Serpente. Muitas informações abaixo não são, entretanto, extraídas apenas das narrativas e cartas de Robert Howard, mas também de algumas HQs, pastiches e do Gurps Conan.
Estígia (Stygia no original) é o equivalente ao Egito. O nome vem do Estige (Styx no original), um rio do Hades em mitologia grega. Em épocas anteriores, o território da Estígia incluía Sem, Ofir, Coríntia e parte de Koth. A Estígia é governada por uma teocracia dos reis-feiticeiros. As pessoas são de pele escura. A maioria das pessoas comuns é descendente das várias raças do mundo. Eles adoram o deus da serpente, Set. O terreno da Estígia é uma mistura de montanhas, desertos e pântanos. O rio Estige flui através da Estígia para o mar. O Egito helenístico tinha uma religião política de Estado, o "Culto de Serápis", uma mistura de Hades (Styx) e Osíris, principalmente o primeiro. Talvez isso tenha inspirado o 'Culto da Serpente' da Estígia de Howard. Os plebeus da Estígia ainda podem, em espírito, ser os escravos humanos originais ou as raças escravas dos homens-serpente que governaram esse reino séculos antes. A elite de pele branca ainda pode adorar "O grande e obscuro" (Texto extraído da obra “A Filosofia em Conan”, baseado nos relatos de Robert Howard e em estudos sobre o autor e seu universo ficcional).
Reino meridional com costa para o Mar do Oeste, tinha como fronteiras, ao norte e a leste, o Rio Styx e, ao sul, os reinos de Kush, Darfar e Keshan. A Stygia era a Terra do Mal, onde o culto ao deus-serpente Set era o único aceitado e sempre controlado com mãos de ferro por sacerdotes e magos demoníacos. (Robert Howard - extraído do site Crônicas da Ciméria).
O personagem Thoth-Amon, que aparece em um conto de Conan e acaba sendo citado em outros dois é estígio e ele faz parte (ou fez, dependendo da cronologia) do chamado “Círculo Negro”, principal ordem de feitiçaria do reino.
A história da Estígia inicia-se com o controle dos Homens-Serpentes, que ocasionalmente se tornaram inimigos dos reinos pré-cataclísmicos, tal como a Valusia, do rei bárbaro Kull.
Quando tais criaturas foram empurradas para o sul, elas passaram cada vez mais a viver nas catacumbas ao sul do rio Styx. Logo vieram os membros da Raça Antiga, expulsos do oriente pelos seus escravos que descendiam dos lemurianos. Eles criaram dois reinos de magia no oeste continental: Estigia, a Antiga, que ocupava o atual território ao sul do Styx mais grande parte do território de Shem e o Reino de Acheron, ao norte das Montanhas de Koth, ocupando o território que depois seria ocupado pelas vagas hiborianas do norte, quando Acheron foi destruído e quando foram criados os famosos reinos hiborianos do oeste do continente Thuriano.
Os estígios, por sua vez, não conseguiram enfrentar a arte militar de ferro e aço dos hiborianos e foram deixando Shem em direção ao sul. Aos poucos, eles foram expulsando, ainda que involuntariamente os Homens-Serpentes, que se escondiam em suas catacumbas e que logo foram considerados por alguns sacerdotes da Raça Antiga como divinos, quando não as expressões de divindades poderosas de suas antigas deidades, incluindo aquelas da chamada Noite Antiga, além, claro, do Pai Set.
O fato é que os estígios deixaram seus súditos, o povo de Shem enfrentando os hiborianos, cobrando tributos para uma proteção irrisória. Com o tempo, os Filhos de Shem lutaram contra esses tributos dos estígios, restringindo o controle desse reino ao sul do Styx, como uma porta de entrada para os cultos profanos de Set e para os chamados Reinos Negros localizados mais ao sul ainda.
O Círculo Negro governa o reino, apesar de suas disputas internas e o líder do grupo, Thoth-Amon estar desaparecido por conta dessas disputas pelo poder. Os reinos hiborianos, adoradores de Mitra desprezam a Estígia, em razão do culto do pai-Set, inimigo da divindade hiboriana. Alguns reinos, no entanto, estão contratando magos estígios para se fortalecerem.
Turan possui relações diplomáticas e comerciais com os estígios e esses tentam incorporar Shem a seus domínios, ainda que exista também algum comércio entre ambos. Parte da Estígia é desértica, principalmente no oeste do Styx, existindo diversas criptas e catacumbas espalhadas.
Ao longo do litoral do Mar do Oeste, existem pântanos e florestas ladanosas, e o pântano do “Lótus Púrpura” localiza-se mais ao sul, sendo alimentado pelas seivas do rio central do reino. Em volta do Styx existe uma região extremamente fértil, devido às cheias do rio, com um solo enegrecido e ótimo para a agricultura, o mesmo valendo para a região de Taia, a sudeste, onde o rio faz curvas e possui diversos aluviões propícios para a agricultura, quando as águas das cheias voltam ao leito normal.
Khemi e Luxur são as principais cidades da Estígia, a primeira a capital sacerdotal, fechada a estrangeiros, apesar de ser um porto do Styx, a segunda a capital administrativa, onde se encontra o Trono de Marfim. Em Taia, muitos Filhos de Shem ocupam a região, sendo um local de atritos constantes entre estígios e tais povos.
Lembrar que o rio Styx, ou Nilo, corre de leste a oeste, com aluviões para o sul, desaguando no Mar do Oeste. Animais perigosos, como serpentes gigantes constritoras, leões, chacais e grandes crocodilos e hipopótamos, nesse último caso localizados nos rios Styx e no mais famoso de seus afluentes, o Bakhr, perambulam lado a lado de criaturas fantásticas e bizarras, que normalmente dormem e se escondem nas grandes tumbas piramidais, hipogeus e criptas estígias.
São elas, a Manticora, a Lâmia e o Mermecolion (uma espécie de formiga gigante com a cabeça de um leão, muito comum nos contos do medievo a partir de uma interpretação errada do Livro de Jó bíblico).
Os estígios fazem pouco comércio com os de fora, mas precisam de cereais devido aos seus desertos e pântanos, normalmente lápis-lazúli, quartzo de fina qualidade e outras pedras preciosas. O transporte de marfim, escravos, pérolas e peles oriundas dos reinos negros também abastece outras regiões, principalmente Turan e Shem, sendo que muitos estígios fazem talismãs, seda, amuletos medicinais e armas exóticas que podem ser as vezes exportadas.
A sociedade estígia é dominada pelo clero, sendo uma espécie de teocracia em que o sumo-sacerdote do Pai-Set, localizado em Khemi, detém o poder, ainda que o “Círculo Negro” seja a autoridade real por trás de muitos desses poderosos sacerdotes.
O mesmo vale para o rei estígio do Trono de Marfim, em Luxur, chefe administrativo e da casta dos nobres e burocratas, também manipulado pelos feiticeiros do círculo. Aliás, muitos nobres e sacerdotes ocupam importantes postos no governo.
Os estígios se diferem internamente em três sub-raças: a elite mais clara, descendentes do Raça Antiga e com pouca mistura com os povos locais, normalmente raros são os verdadeiros governantes; abaixo deles, os aristocratas que cuidam da burocracia e ficam vadiando na corte em Luxur, as vezes (e cada vez mais) fazendo parte da casta sacerdotal, normalmente a mescla da Raça Antiga com povos negróides da região, numa mistura que os faz ter a pele negra e o rosto aquilíneo; por fim, os camponeses, um híbrido entre kushita, shemita, hiboriano e estígio, ocupando a base da estrutura social.
Os costumes do povo e do reino são draconianos, com o clero cuidando de muitas das normas e formas de conduta moral, comportamental e de pensamento. O comércio é normalmente obstruído e os estrangeiros não são bem-vindos. Não existem estalagens e tavernas na estígia e quando um membro do povo sai de sua terra, ele nunca comerá em público, se tornando taciturno, falando o necessário e nunca sobre sua terra e seus costumes.
Hipopótamos e principalmente serpentes são comuns nas ruas das cidades estígias e o povo normalmente se prostra diante desses animais, incluindo as grandes serpentes constritoras, que atacam a população. O estígio normalmente não irá reagir e considerará a morte dessa forma uma bênção de Set.
A Lei é severa e o povo precisa reportar tudo o que faz, incluindo uma mudança de casa, uma viagem ou a compra de armas e armaduras, tendo que ir aos templos sob pena de pesadas multas. Além disso, as plantações e tudo que é produzido precisa da bênção de Set, mediante um pagamento para os templos e o dízimo sazonal. Normalmente os pedidos são negados e os estígios têm seus bens confiscados e multas em caso de desobediência.
Crimes graves são punidos com a morte depois de tortura e os corpos costumam ficar mutilados e expostos para não adentrar no mundo além-morte. Toda a criança deve se abençoada por Set, e a recusa a essas obrigações religiosas levam a acusação de heresia, punida com a morte e o confisco dos bens da família do herege.
As forças armadas estígias são formadas por infantaria e cavalaria média e piqueiros e a ociosidade de seus militares levam a problemas no plano das conquistas, sendo a magia e o medo que os estrangeiros possuem do reino e do povo, as formas mais poderosas de defesa do território contra invasões.
São comuns os cavaleiros ligeiros estígios perambulando pelas estradas e as vezes em incursões a Shem, ainda que possuam proteção leve e armas de bronze, com pontas de sílex ou ferro de baixa qualidade.
Pode-se dizer que o estígio que se aventura é normalmente um feiticeiro necromante ou um sacerdote necromante e o conhecimento, o poder e os segredos dos demônios da Noite Antiga são objetivos quase que obrigatórios. Aliás, não é incomum que Set seja visto como uma dessas criaturas antigas, um Primogênito ou até um dos poderosos deuses Exteriores Arquetípicos Lovecraftianos.