Rusty é autor de uma das mais famosas biografias de Howard, estudioso e pesquisador sobre o autor, criador do Howard Days e um dos maiores nomes quando o assunto é Howard.
Introdução por Marco A. Collares |Tradução por Duda Ferreira
INTRODUÇÃO
No último dia 22 de agosto tivemos uma conversa online com Rusty Burke em nosso canal, ele que é uma grande autoridade no que tange a figura e obra de Robert Ervin Howard. As perguntas foram variadas e a entrevista online pode ser encontrada no nosso canal ou ser assistida na íntegra logo abaixo da introdução.
Como fizemos a entrevista no facebook e youtube simultaneamente, muitos apoiadores e integrantes do Fórum fizeram perguntas escritas nas áreas de comentários das plataformas. Como o tempo das lives é curto, não deu para passar todas as perguntas para o nosso convidado.
Mas eis que Burke, depois, respondeu a todos os que perguntaram para ele, por escrito. Nesse arquivo então alocamos as perguntas de nossos apoiadores e integrantes e as respostas em inglês do senhor Burke. Duda Ferreira (Valvulado Podcasts), nosso tradutor, passou para o português. O resultado por ser conferido logo abaixo.
Corwin Gothcrom - A verossimilhança com a realidade é um dos pontos fortes em Howard, apesar de fantásticos, a forma crua e brutal com que ele apresenta os personagens, nos torna mais próximos deste mundo. Howard escreve com paixão e de forma visceral!
Rusty Burke - Absolutamente! Howard estava muito preocupado em que sua escrita fosse o mais realista possível, mesmo quando escrevia sobre o fantástico ou sobrenatural.
[Absolutely! Howard was very concerned with his writing being as realistic as possible, even when writing of the fantastic or supernatural.]
Corwin Gothcrom - A forma que Howard usou para criar os povos da era Hiboriana foi perfeita, nos transporta facilmente para aquele mundo e nos faz acreditar que tudo aquilo poderia ser real. Existe alguma destas culturas com a qual ele simpatize mais e porque?
Rusty Burke - Bem, acho que ele claramente simpatiza mais com as culturas "bárbaras" e semibárbaras (cimérios, gundelandenses, bossonianos, turanianos).
[Well, I think he pretty clearly sympathizes most with the "barbarian" and semi-barbarian cultures (Cimmerians, Gundermen, Bossonians, Tauranians)]
Corwin Gothcrom - Fantástica essa live! O legado de Howard deve muito à pesquisadores sérios com Rusty Burke e Patrice Louinet, os quais ajudaram a reparar várias das injustiças realizadas quanto a memória e o legado de Howard. Existe a possibilidade de termos os livros do Burke, publicados no Brasil?
Rusty Burke - Ainda estamos tentando fazer com que ele escreva um!
[We're still trying to get him to write one!]
Espero que vocês pensem seriamente em ter um Howard Days no Brasil! Para podermos nos encontrar pessoalmente, o que nos ajuda a manter a amizade, mesmo quando não estamos de acordo. Acho que sempre saio de Howard Days me sentindo inspirado.
[I hope you will give serious thought to having a Howard Days in Brazil! Being able to meet with each other in person helps us maintain friendship even when we do not agree. I find I always come away from Howard Days feeling inspired.]
Corwin Gothcrom - Sobre Noveline Price, como foi conhece-la e ouvir dela, sobre Howard?
Rusty Burke - Billie Ruth Loving, a bibliotecária de Cross Plains na década de 1980, foi aluna de Novalyne nos anos 1930 e renovou sua amizade após o lançamento do livro de Novalyne. Pedi a Billie Ruth que encaminhasse uma carta de fã minha para a Sra. Ellis; ela o fez, e recebi uma resposta muito agradável de Novalyne. Perguntei se poderia conhecê-la em uma de minhas viagens de Houston a Nova Orleans, e ela concordou. Nos conhecemos em um restaurante, e acho que ela gostou muito de mim, porque me convidou para ir até a casa dela e continuar conversando. Depois disso, visitei-a várias vezes, entrevistei-a, arranjei para que ela falasse sobre REH em um banquete na Convenção Mundial de SF, de 1988 em Nova Orleans, e nos tornamos amigos.
[Billie Ruth Loving, the librarian in Cross Plains back in the 1980s, had been a student of Novalyne's in the '30s, and they renewed their friendship after Novalyne's book came out. I asked Billie Ruth to please forward a fan letter from me to Mrs. Ellis; she did so, and I received a very nice reply from Novalyne. I asked her if I could meet her on one of my trips from Houston to New Orleans, and she agreed. We met at a restaurant, and I guess she liked me okay, because she invited me to come to her house and continue talking. After that, I visited her several times, interviewed her, arranged for her to speak about REH at a banquet at the 1988 World SF Convention in New Orleans, and we became friends.]
Corwin Gothcrom - Um tema recorrente na obra de Howard é a barbárie x civilidade. Qual objetivo de Howard com este embate recorrente?
Rusty Burke - Esta é, obviamente, uma das grandes questões nos estudos de Howard. Seria necessário um artigo mais longo para abordá-lo: escrevi sobre isso em vários lugares. Vou adicionar à minha lista de "tarefas" para escrever um ensaio reunindo minhas ideias sobre o assunto. Uma resposta curta: acho que Bob percebeu que a civilização era um verniz muito fino e que as pessoas não são muito distantes de suas origens bestiais, por natureza. Temos que trabalhar muito para construir a civilização se quisermos não cair de volta na selvageria.
[This is, of course, one of the Big Questions in Howard Studies. It would take a longer article to cover it: I have written about it several places. I will add to my "to do" list to write an essay bringing my thoughts together on the topic. A short answer: I think Bob saw that civilization was a very thin veneer and that people are innately not much removed from their bestial origins. We have to work very hard to build civilization if we hope not to slide back into savagery.]
Corwin Gothcrom - Em contraparte ao De Camp, ele também conheceu Glenn Lord? E qual a importância de Glenn no resgate ao legado de Howard?
Rusty Burke - Eu considerava Glenn quase um segundo pai para mim. Ele foi uma das pessoas mais importantes da minha vida, e acredito que nada que eu tenha feito, nada que qualquer um de nós tenha feito, na verdade o próprio fandom de Howard, não existiria sem ele. Eu poderia falar sobre Glenn por horas e horas, e escrevi alguns ensaios em sua homenagem. Eu dedico quase tudo que faço nos estudos de Howard a ele. Eu o amava e sinto terrivelmente a falta dele.
[I considered Glenn almost a second father to me. He was one of the most important people in my life, and I believe that nothing I have done, nothing any of us have done, in fact Howard fandom itself, would not exist without him. I could talk about Glenn for hours and hours, and I have written some essays in his honor. I dedicate pretty much everything I do in Howard studies to him. I loved him, and I miss him terribly.]
Corwin Gothcrom - Qual a imagem de Howard atualmente, em Cross plains? E no Texas em geral?
Rusty Burke - Nos 35 anos desde que visitei Cross Plains pela primeira vez, sua imagem melhorou imensamente! Atribuo muito disso aos Howard Days de Robert E Howard, quando fãs e cidadãos locais se misturaram e desenvolveram amizades, e os fãs provaram que podem ser "bárbaros", mas não se comportam como selvagens. Cross Plains agora abraça Howard como um filho nativo. No Texas, sua reputação está crescendo lentamente. Muito em breve, por exemplo, a University of Texas Press lançará uma biografia de REH por Todd Vick.
[In the 35 years since I first visited Cross Plains, his image has improved immensely! I attribute a lot of that to the annual Robert E Howard Days, as fans and local citizens have mingled together and developed friendships, and the fans have proven that they may be "barbarians," but they do not behave like savages. Cross Plains now embraces Howard as a native son. In Texas, his reputation is slowly growing. Very soon, for instance, the University of Texas Press will be releasing a biography of REH by Todd Vick.]
Luciano Jose de Oliveira - Eu mesmo já reproduzi muitas insanidades sobre Howard infelizmente... porém graças aos livros em especial de um certo Marco Antonio Collares, hoje não faço mais essas bobagens.
Rusty Burke - É por isso que fazemos essas coisas!
[This is why we do these things!]
Corwin Gothcrom - E quanto a Noveline Price. Como foi conhece-la e ouvir diretamente dela, suas vivências com Robert Howard?
Rusty Burke - Falei sobre isso na entrevista, obrigado pela pergunta. Eu simplesmente a amei. Ela era toda a "cabeça quente do Texas", não tinha vergonha de falar o que pensava! Ouvi-la falar sobre Bob Howard foi uma honra incrível.
[Talked about this in the interview, thank you for the question. I just loved her. She was every bit the "Texas spitfire," not shy about speaking her mind! Listening to her talk about Bob Howard was just an incredible honor.]
Corwin Gothcrom - Teremos os livros de Rusty Burke no Brasil?
Rusty Burke - Ainda não temos nenhum nos EUA, exceto alguns muito curtos.
[We don't even have any in the US, yet, except some very short ones.]
Cayman Moreira - Estou atrasado porque estava no Arizona, na Terra Navajo, mas estou aqui agora.
Rusty Burke - Eu visitei a nação Navajo, a terra é linda, as pessoas são incríveis, a recepção de celular e internet é terrível!
[I've visited the Navajo nation, the land is beautiful, the people are amazing, the cellphone and internet reception is terrible!]
Corwin Gothcrom - Qual sua visão sobre racismo na obra de Howard?
Rusty Burke - Sim, uma pergunta boa e polêmica. Eu pessoalmente abomino o racismo, que considero estúpido. Lamento que esteja presente em algumas das obras de Howard. Mas ele nasceu e foi criado no Texas do início do século 20, e viveu a última metade de sua vida em uma cidade onde os negros não podiam permanecer depois de escurecer. Lamento que ele não tenha sido iluminado o suficiente para superar seu ambiente, mas me pergunto como as pessoas no futuro me verão? Existem algumas maneiras pelas quais eu acho que REH pelo menos reconheceu a dissonância cognitiva envolvida na negação das liberdades a algumas pessoas que ele reivindicou tão ferozmente para si. Escrevi sobre isso na segunda edição de The Dark Man, um ensaio "The Old Deserted House: Images of the South in Howard's Fiction". Observei, por exemplo, que em "Black Canaan", ele chamou a cidade branca de "Grimesville" ("fuligem" é sujeira que está enraizada em algo) e o assentamento negro de "Goshen" (a terra bíblica no Egito em que os israelitas foram mantidos na escravidão). Isso parece sugerir maior simpatia por aqueles do assentamento negro.
[Yes, both a good and a controversial question. I personally abhor racism, which I think is stupid. I'm sorry that it is present in some of Howard's work. But he was born and raised in early-20th-century Texas, and lived the last half of his life in a town where black people were not allowed to be around after dark. I'm sorry he was not enlightened enough to overcome his environment, but I wonder how people in the future will see me? There are some ways in which I think REH at least recognized the cognitive dissonance involved in denying freedoms to some people that he so fiercely claimed for himself. I did write about this in the second issue of The Dark Man, an essay "The Old Deserted House: Images of the South in Howard's Fiction." I noted, for example, that in "Black Canaan," he named the white town "Grimesville" ("grime" is dirt that is ingrained into something) and the black settlement "Goshen" (the Biblical land in Egypt in which the Israelites were kept in slavery). This would seem to suggest greater sympathy for those in the black settlement.]
Jeremy Webb - Tenho lido "Blood and Thunder" de Mark Finn, parece uma biografia muito boa sobre R. E. Howard.
[I've been reading "Blood and Thunder" by Mark Finn, it seems a pretty good biography on R. E. Howard.]
Rusty Burke - Excelente biografia! Você também pode procurar Robert E. Howard: A Literary Biography, de David C. Smith, e ficar de olho no próximo Renegades and Rogues: The Life and Legacy of Robert E Howard, de Todd Vick.
[Excellent biography! You might also look for David C. Smith's Robert E. Howard: A Literary Biography, and keep an eye out for Todd Vick's forthcoming Renegades and Rogues: The Life and Legacy of Robert E Howard.]
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